sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Dia primeiro



                O ônibus estava terrivelmente cheio, de todas as espécies de gente havia ali, do mais simples ao empresário. Eu seguia até o aeroporto; pelo motivo de o ônibus não parar exatamente no aeroporto, é que eu prestava bastante atenção, pois eu teria que descer próximo de um retorno conjunto ao aeroporto Cunha Machado. Em alguns minutos já em pé no ônibus, a cobradora me informara que o retorno estava muito próximo e que eu já devia me preparar para descer do ônibus.
                Assim que descido, comecei a caminhar loucamente para o aeroporto; de onde desci, precisei percorrer cerca de 1 km até a área de desembarque. Conforme andava várias empresas de transporte estadual iam me perguntando se eu estava indo viajar a algum interior de nosso estado; eu negava relutantemente em cada van que via. E dava cada vez um passo maior que a perna, estava apressado. Meu tempo limite era 13h55 e me restavam apenas quinze minutos, atravessei a rua adoidado e só não corri o trecho até a entrada do desembarque por querer chegar sem suor; mas foi inevitável...
                Vendo que me restavam cinco minutos, corri até o banheiro trocar de blusa, pois eu já estava transpirando abusivamente, da camisa que eu usava retirei meu papel de identificação para meu visitante. Trocada a blusa, segui com o papel no bolso da calça e segurando uma sacola e uma mochila, fui à área de desembarque.  Coloquei a sacola entre meus pés e retirava meu papel do bolso, desdobrava-lhe e o mesmo estava visível a todos os passageiros vindos do voo no pátio.
                O visitante já estava visível e eu o reconhecera de longe, pegando sua mala, e vindo em minha direção, eu me sentia completamente em adrenalina; não sabia como reagir; minhas pernas estavam bambas, e minhas mãos tremulavam segurando o papel. Com seu andar a esmo, e seus braços como asas; usando uma camisa de manga longa de tecido xadrez rosa e uma calça jeans social, assentia quando via seu nome na plaquinha. De súbito eu virava a mesma que continha outra mensagem ao seu revés: “Casa comigo?”.
                A partir de lido o bilhete pelo Raphael, ele vinha a me dar um beijo, e logo um abraço. A reação de todos em volta era de espanto imediato. Segurando-lhe em braços, e com as pernas sucumbindo à gravidade, eu lhe disse:
- Eu te amo tanto meu guri. – Disse isso com um aperto enorme no coração.
- Eu também te amo meu garoto – Ele me era recíproco.
                Seguimos, em alguns minutos, até a parte de fora e pegamos um táxi até o hotel em que nós ficaríamos hospedados. No caminho até o hotel trocamos anedotas fúteis. Eu estava completamente pasmo; o amor de minha vida estava perante meus olhos e era inacreditável, eu toque em meus lábios estavam cintilando e ansiando por mais. Seus lábios norte me dominaram.
                Chegados ao hotel, fomos direto ao balcão fazer a checagem de nossos nomes no hotel. O rapaz nos atendera bem e nos dera a chave do quarto 319, seguimos as instruções dadas até nosso quarto e percorremos um corredor enorme. Nosso quarto era o último do corredor...
                Já eram quase 15h00min quando entramos no quarto, jogamos a bagagem num canto e nos sentamos na cama; ele pegou minha mochila e tentou cúria-la, de súbito quebrou minha bagagem quando eu tentei tomar dele, pois ele iria pegar minha surpresa. Fiquei tentando ajeitar minha bolsa favorita, enquanto ele só me olhava; acabei por desistir de tanta insistência dele. E peguei o seu presente de minha bolsa. Mandei-lhe fechar os olhos e peguei uma pequena caixa da bolsa. Mandei-o abrir os olhos e quando viu a caixinha com os dizeres: “One kiss to open”, perguntou aonde deveria beijar, já me chamando de safado.
- Beije-me onde quiser! – Afirmei a ele
                Vindo até mim, o guri me vinha tirando a blusa que eu usava e beijara meu umbigo. Uma sensação constrangedora me consumia e eu só tinha a sucumbir. Dei-lhe a caixinha com disposição a abrir. Dentro da mesma havia um coração com um colar, além de algumas frases aleatórias. O momento era mágico e ele percebera que meu coração era só dele. Dei-lhe um beijo na bochecha e ele se distanciou assim depois. Ele pegou em sua mala duas camisas e uma cueca, e me mandou experimentar.
                Assim no banheiro, vesti a cueca e uma das camisas. Eu estava apreensivo se ele gostaria de mim ou não, se iríamos manter relações sexuais; estava completamente nervoso. Ajeitei meu cabelo e fui até ele exibir minhas novas vestes.
- Ficaram boas pra você? – Ele perguntou
- Sim, acho que sim! – Assenti nervoso.
                De súbito fui ao banheiro experimentar a outra camisa. Eu estava nervoso demais, não sabia o que fazer e/ou como fazer algo. Só sabia que o amava e de mais puro sentimento nunca sentira antes. No banheiro me troquei e tentei manter a calma, coloquei a outra camisa e fui até onde ele novamente. O piso parecia absurdamente mais gelado e minhas pernas permaneciam bambas.
                Voltei ao banheiro e fingi que ri... Entrei na área de banho, e abri o chuveiro: a água estava fervendo, abri a outra torneira e a água aparentou mornitude. Passava-me o sabonete e o Raphael entrou no banheiro como em uma de minhas crônicas antepassadas. Tirava sua cueca rosa e a colocava no chão. Próximo à minha e riu por ver que seguia o antigo roteiro... Entrou na área de banho junto a mim e esfregou minhas costas, e minhas bochechas ásperas também.
                Pôs-me perante a parede e desperdiçávamos água por um estante; suas pernas entrelaçavam-se entre as minhas e ele me beijava. Eu me sentia um, com ele. Eu parecia apenas um meio, e com ele virava um inteiro. A libido era mais alta e toda a agonia se sucumbira ao sentimento da libido que era incontrolável. Pegava-lhe em seus cabelos traseiros e o apertava num beijo sufocante. Seguimos molhados mesmo, até o colchão e praticávamos novela.
                                                                                              ***
               
Seguimos até um banho forçado e era risível quando um passava xampu no cabelo alheio fazendo diversas formas apenas com o objetivo de riso mútuo. Era lindo ver seu riso ali diante o meu. Ver seus olhos brilhando como nunca antes em foto. Ele me jogava água e parecíamos duas crianças se divertindo. Espalhávamos o melhor de nossa alma. O mais belo e puro sentimento que poucos sentem.
Ajudei-o a se enxugar e coloquei minha roupa nova, estava me sentindo a pessoa mais feliz do mundo, porém com algumas dores... Guardei as roupas sujas e escondi a cueca rosa dele: a qual eu prometi que lhe roubaria. Com a roupa já colocada, eu abusava do secador de cabelo que ali havia. – Eu como garoto normal, jamais tive um secador em casa. – E parecia criança com tudo o que fazia. Minh’alma estava, aparentemente, renascida.
Saímos para o shopping de ônibus; o roteiro era que descíamos uma ladeira em conforme sincronia com o século retrasado. Andávamos pela ilha do amor, observando a maré, próximo ao cais da cidade. O cheiro doce-amargo que aquela água trazia às narinas era agradável.
                Entramos no terminal e pedimos informações procurando a plataforma em que poderíamos pegar um ônibus em direção ao shopping. Chegamos à plataforma número 3 e esperamos pouco menos que quatro minutos até a vinda do nosso ônibus. Precisamos agir rápido na tentativa de um lugar para sentar. Ele se sentou e fiquei em pé por alguns minutos. Tirei fotos dele para recordação, talvez. Em algum tempo eu consegui me sentar do seu lado e lhe sussurrei:
- Eu te amo.
                Não demorou muito e chegamos ao shopping, fomos direto até um restaurante; estávamos morrendo de fome. Jantamos uma espécie de almoço. Enquanto esperávamos a comida chegar ali numa área reservada, víamos novela, ao mesmo tempo em que pretendíamos imitá-la. Ele beijava minha pele paulatinamente e conforme nos olhávamos um ao outro. Era de longe o melhor sentimento. Beijá-lo...
De demora o nosso prato chegou, e ele estava morrendo de fome. Como bebida, eu pedi meu refrigerante favorito e estadual. Ele o mais internacional possível. O “almoço” era carne com arroz e feijão. De modo bem mais enfeitado e cheio de glúten. Assim que satisfeitos, o que me era bobo, pois eu estava deixando comida no prato: coisa que considero absurdo. Seguimos para pagar o prato.
Fomos até o cinema e resolvemos assistir um filme. O que estava disponível era um nacional, fomos assistir. Assim que na sala, ele resolvera me abrir a porta. Entramos e, num escuro, fomos até nosso lugar marcado.
De tempo em tempo repetíamos os mesmos diálogos seguidos de beijos:
-Amor, o filme. O filme.
                Beijava-lhe como distração perante o filme cômico, mas era inevitável a atração de nossos lábios.
Após incontáveis beijos, e o filme acabado descíamos o andar ele quis comprar sorvete. Fui ao banheiro e pedi que me esperasse. No banheiro, eu tentara me limpar de um algo que estava me incomodando. Tinha minhas teorias, mas mesmo após a limpeza a dor continuava. Tomei o sorvete e ele limpara meus lábios com caramelo. Dera-me um beijo em público e meu coração parecia explodir.
Ao seu beijo, meu riso é imediato; com louvor é que posso dizer que ao ver outros casais se beijando, não sei necessariamente se é isto o que sentem, mas se o for; eles são muito sortudos por terem alguém que lhes proporcione este algo indefinível.
Descemos a escada rolante e seguimos até a parada de ônibus, eu ainda comendo sorvete e me lambuzando todo. O ônibus não tardou a passar. Subindo nele pude me sentar à janela e no banco mais alto da parte traseira no ônibus.
De conversa só trocávamos anedotas bobas e o dia parecer ser o melhor da minha vida. Não demorou muito e chegamos ao terminal; seguimos andando num pouco escuro da cidade com suas luminárias de séculos passados. Passamos próximo à casa da governadora e em poucos minutos estávamos no hotel.
No balcão perguntamos se o problema no quarto já havia sido revisto. O ar-condicionado não estava gelando. Informaram-nos que iriam chegar o quarto em alguns minutos. Fomos até o quarto e nos deitamos na cama, naquele calor. Fui ao banheiro me queixando um pouco de dor ainda, sentei-me no vaso sanitário e tentei me livrar de um algo talvez imaginário.
Abri a porta e fui banhar, depois. Um homem veio recolher nossa bagagem, pois estávamos mudando de quarto enquanto eu banhava. O Raphael me assentira isto por voz. Quase no fim de meu banho ele entra no banheiro dizendo que vamos até o quarto 439 no andar acima. Ajudou-me a enxugar a pele e a me vestir. Perguntou se eu estava melhor e eu assenti depois.
Tentamos ajudar o moço o qual estava carregando nossa bagagem do modo que pudemos. O elevador estava quebrado e seguimos até o andar seguinte pela escada. O moço, orgulhoso, negara nossa ajuda e fomos até o quarto. Quando nós chegamos, eu já me deitara na cama enquanto o Raphael ligava o ar-condicionado.
Em alguns três minutos, o moço já esquecido batia na porta e o Raphael fora atendê-lo pegando as bagagens. Deixava num canto e me chamara me mostrando uma cama a mais naquele quarto. O moço voltara para pegar mais bagagens e ficamos observando a vista que aquele compartimento tinha a nos oferecer de brinde.
O moço voltou dessa vez eu fui pegar o resto da bagagem. Perguntei-lhe se havia mais alguma coisa a buscar e ele disse que não. Voltei para a cama inicial onde o Raphael me esperava já no ponto de dormir.
Fiquei agarrado com ele, sem pensar em largá-lo. Ele possuía uma pele quente à qual eu estava me aquecendo mediante o frio do novo quarto. Conversávamos como sempre e parecia que nos conhecíamos a anos, o que era verdade, mas era a primeira vez que nos víamos pessoalmente o que era completamente estranho e novo. Coloquei minha cabeça sobre seu peito e dormia enquanto ele me fazia cafuné e sussurrava me amar.

                 


segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Fazer novela



                Descíamos de ônibus frente ao terminal da Praia Grande, eu descera primeiro e ele vinha logo atrás, queixando-se de dor.
- Amor, minhas costas ainda estão doendo...
- Atravesse que não vem carro agora – Eu disse.
                O Raphael estava com uma bermuda bege como a minha e usava uma camisa de gola polo que eu acho desconfortável. Além da bermuda eu estava com uma camisa que ele havia me presenteado.
                Observávamos a maré seca e sentíamos seu cheiro um pouco desagradável. Ao dizer que ele devia correr, decidi correr para provar que eu era mais rápido, mas ele me olhou com desdém e continuou atravessando a rua normalmente. Andamos um pouco mais até próximo do teatro Alcione Nazaré.
- Ali é um teatro, cinema e biblioteca: é bem interessante ir lá – Falei com um risinho estalado.
- Que tal a gente apostar a corrida daqui até o hotel? – Disse ele
- Não sei...
- Estou em desvantagem: minhas costas doem, estou segurando uma sacola com remédio e estou de chinelo.
- Ainda acho melhor não, seu ego é muito grande e você não sabe ganhar!
- Pois é – Concordou ele.
                Continuamos andando sobre a ilha do amor, por suas ruas com paralelepípedos e sua formosura clássica, de mãos dadas numa rua deserta, nós seguimos vagarosamente até o hotel.
                Uma cena linda de ser vista por uma terceira pessoa; algo tão simples e belo como um casal de amantes se amando...
                Em poucos segundos estávamos subindo a escadaria em direção ao palácio dos leões, ele resolveu subir pela escada.
                Havia uma curva meio deformada em seu início e dava em uma ladeira ao lado de uma pracinha organizada e cheia de árvores. Subimos a ladeirinha e ele disse:
- Por aqui passavam carros!
                Demorei um pouco a assentir, pois a lógica me foi lenta...
                Próximos do corrimão, defronte o fim da ladeirinha, olhei de lado a lado procurando algum estranho; ao não ver, encostei-lhe com a parede branca da superfície alheia à ladeirinha e passei minhas palmas em seus cabelos. Dei-lhe um beijo e fizemos novela sob um belo pôr do sol.
- Agora posso te dar o beijo e abraço que a professora lhe mandou.
                Desprendeu-se de meu beijo e nos olhamos, meus olhos brilhavam tanto que eu podia vê-los nos mesmos cintilantes dele. Dei-lhe um beijo a mais e sussurrei em seu ouvido três de minhas palavras favoritas:
- Eu te amo!