Olhava
o céu noturno, ali, a esmo pela varanda de sua casa; o que mais lh’encatava
eram as estrelas que salpicava a lua. Imaginava a Lua como seu reflexo, apenas
de perfil. Dia ou outro tinha marcas a mais ou a menos que noutro dia; apenas ria
sem motivos vendo o céu curiar sua agonia.
A
Lua não enjoava de seu telespectador favorito, se pudesse lh’enchugava as
lágrimas que do favorit’escorriam. Sempre um mínimo mais tarde saia da varanda
e ia dormir, portando seu pijama e suas tristezas. Ia aconchegar-s’em sua cama
macia, sem companhia...
O
relógio ainda invisível cumpria seu trabalho em alarmar ali pelas 6h da manhã.
Não bobo, não nada nosso respectivo lunático desativa o alarme e fica uns
minutos na cama tentando tirar a preguiça e dali sair.
Agora
visível o relógio calado indicava 6h13min, Lunático corria para cumprir seu
papel de chegar à escola ás 7h. Ligava a cafeteira e deixava-a trabalhar
enquanto ia-se banhar.
Enxuto
o corpo, Luna ia vestir-se com a farda; punha o café na garrafa e depois sua
fração em xícara; adicionava o açúcar-leite condizente.
Luna só
conseguia pensar em uma coisa – Mariano Estrela – Seu cérebro imitava câimbra e
formigava a mente com minúsculos estalidos só de lembrar que o veria hoje e que
tentaria assumir-se à sua Estrela.
Menos
de um quarto de hora faltando, Lunático e seu cérebro estalado, sorria para
quem via no caminho até chegar a sua cadeira de costume, próximo à parede.
Encostava sua bolsa ao chão e esperava sua agonia esvair-se.
Visto
dum terceiro, Luna aparentava uma pessoa normal por ali trocando anedotas com o
seu grupo de íntimos, mas ainda lhe faltava Estrela chegar; Mariano chegou
atrasado exatos 8min23seg. Luna correu a abraçá-lo com um espanto de curiosos,
Lunático não podia fazê-lo. Mariano
sentou-se um pouco longe de Luna desta vez, manteve o olhar preocupado, um
pingo assustado. O som da geografia ministrada não era audível a Luna que
estava sentindo-se absurdamente vago.
Três
horários passados todos saiam ao recreio; Lunático pegou seu livro e foi ao seu
canto ler mais um de seus autores favoritos. Mariano encabulado todo, foi até
Luna.
- Oi...
- Oi, Mariano – Um silêncio absoluto os descrevia. Lunático gritava todos os
seus desejos em mente, mas não conseguia dizer muito. Num desejo inconfundível
conseguiu dizer, mesmo que serrando os lábios:
- Que ir à minha casa hoje?
- Quero! – Mariano não se demorou muito a responder.
- Até logo, continue seu livro, não quero atrapalhar. – Mariano saiu-se de fino
andar, escondendo um enorme riso de felicidade. Luna não conseguia de modo
algum esconder seu riso completamente frouxo de orelha a orelha sabendo que
veria sua estrela em casa hoje.
Os
segundos pareciam ter entrado em greve ao ponto de apenas uma ínfima
porcentagem querer trabalhar. No fim do horário Lunático qu’estava escondido só
pensava em desistir de levar Mariano à sua casa. O povo todo qu’ia até o portão
distanciavam-se em seu vão. Mariano via Luna tentando fugir, mas tão logo lhe
surpreendera encostando sua mão em seu ombro.
- Vamos! – Disse apenas esta palavra sem demonstrar seu nervosismo.
O
caminho era curto, desceram uma ladeira um muito íngreme e chegaram ao portão
em apenas sete minutos. Lunático morava só desde que sua avó morrera. Mariano
entrou sem se demorar e com seu estomago a roncar, ousou perguntar:
- O que tem pra comer?
Luna
conteve toda e qualquer vontade libidinosa e apenas disse que ainda iria
cozinhar.
Seguiram
a receita tal qual. Enquanto Lunático punha o arroz para cozinhar, Mariano
separava o feijão; o feijão na panela, o arroz já quase pronto Mariano
temperava a carne. Lunático, que sem nada pra fazer foi ralar cenoura com
vontade de comer bolo. Pediu que Mariano lhe trouxesse ovo e foi uma lambuzada
toda. Luna pegou um ovo e tacou na
cabeça de Mariano, sem mais nem menos ele revidara jogando farinha de trigo.
A
sujeira foi muita, mas Mariano até que ajudou a preparar o almoço que servido
foi só lá pras 15h30, hoje seria Bisteca de gado, feijão, arroz e farinha.
Enquanto comiam, deixavam o bolo no forno qu’era de sobremesa. Mariano estava
para fadigar o garfo quando seu telefone inicia a tocar.
- Alô, mãe? – A outra voz nos era inaudível.
- Vim na casa de um amigo – O fonema daquela palavra doía...
- Posso dormir aqui? – Agora falava com Luna.
- Pode, pode sim – O modo como falava era gaguejante.
- Sim, mãe, vou dormir aqui. Até amanhã. – Desligou o telefone e em mente ambos
demonstravam uma felicidade absurda.
O
relógio que já estava invisível novamente anunciava que já era hora de apagar o
fogo do bolo. Mariano o fizera e ao achar um palito espetou-o a fim de ver a
textura do bolo. Resolveu deixá-lo por lá algumas unidades de minuto. Cada um
lavou sua louça e foi o tempo qu’esperaram para a retirada do bolo. Partidos
dois pedaços cada um comeu o seu.
- Este bolo está ótimo! – Afirmou Mariano.
Sem
muito que fazer, cada um foi para a varanda ver o movimento acontecer. Viam as
pessoas em toda a sua preocupação diária. Tentando seguir em frente em suas
vidas de José, sem reparar direito no mundo que lhes têm.
Já
perante o crepúsculo, Luna resolve ser lua perto de sua estrela.
- Mariano, eu preciso lhe dizer uma coisa, ou mais de uma... – Lunático em todo
o seu advérbio disse essas palavras.
- Pois diga – Mariano respondeu no mesmo timbre.
Ao ver
da Lua que ali já se fazia presente, os dois lhe lembravam seu passo. Inúmeras
foram às vezes que Lua via casais daqueles belos. Toda envergonhada salpicou-se
o céu com incontáveis estrelas.
Mariano
andava um pouco tentando chegar perto de Luna. Tocava-lhe em seus cabelos
negros e curtos. Olhava em seus olhos mulatos um reflexo tamanho brilhante
idêntico ao da Lua ali no céu. Mariano
sem ouvir nada, disse ao vento que lh’enviasse a mensagem:
- Eu te amo, Pedro.
Encostado
à parede da varanda, Pedro – Lunático –, era beijado por Mariano que lhes
mantinham com olhos fechados.
A lua observava seu visitante
favorito sentado agora ao lado de seu amado na varanda, olhando-a cada vez com
mais ofuscante iluminação nos olhos de Lunático.
- Vê aquela estrela ali, Mariano? – Pedro perguntou aconchegando-se n’ombro de
Mariano.
- Qual? Aquela ali perto da Lua?
- Sim, sim. Esta mesmo!
- Quê que tem ela?
- Ela agora é tua estrela-nome!
Ironicamente a estrela citada
ofuscava a Lua. Agora de fato eram mútuos os reflexos um do outro. Lua e
Estrela, tanto no céu como na terra.